domingo, 2 de outubro de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Navegar é preciso...


"Daqui vinte anos você estará mais decepcionado pelas coisas que você não fez do que pelas coisas que você fez. Portanto livre-se das amarras. Navegue longe dos portos seguros. Pegue os ventos da aventura em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra."

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Novos ares

(...) quando avistou de cima das nuvens a cidade de Paris, foi impossível segurar as lágrimas. De felicidade. De supra certeza.
Enfim pousaria depois de longas horas de voô. Não conseguira pregar os olhos um segundo sequer, ficara pensando em tudo que acontecera nos últimos anos...
Ao pegar o táxi no aeroporto, pediu, num inglês ruim, que a deixasse bem no início da Champs Élysées.
Queria caminhar por toda a avenida. E caminhou. Depois, entrou num pequeno bistrô; pediu um croissant e um café expresso. Pensou. Refletiu. Chorou novamente; lágrimas de renovação!
Há tempos precisava dessa viagem e agora seria pra nunca mais voltar.
Mudou do Brasil, ela já não aguentava mais ver tanta sacanagem em seu país. Era do tipo patriota, acredita?
Escolheu a França: desde criança tinha fascínio pela Torre Eiffel e pelo idioma francês. Largou o emprego. Talvez agora aquele curso de fotografia que fizera na adolescência serviria pra alguma coisa. Largou as mesmas ruas e esquinas que sempre caminhava. Queria dar passos mais calmos. Deixou pra trás os poucos amigos que tinha, mas eram leais até o último segundo.
Pensou em tudo. Nos amores perdidos, nas saudades e no sonho agora concretizado. Precisava respirar novos ares.
Coincidência ou não, como que divinamente, no bistrô tocava "Je ne regrette rien". Riu e o coração acelerou. Gostou especificamente da parte que diz:
"Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!"


Sabe quando o coração parece sair pela boca? Quando uma euforia incomensurável toma conta da alma?
Bebeu o café lentamente, queria apreciar cada gole de sua nova vida; e o vento soprava suave. Uma serenidade ímpar e transcedental tomou conta daquele instante, era como se Deus estivesse aplaudindo orgulhoso sua corajosa decisão de mudar de vida. Talvez Ele estivesse...
Talvez Ele de fato aplauda quem toma certas atitudes...

sábado, 10 de setembro de 2011

Até quando?

Ao som de "Nada como um dia após o outro" - Racionais; mas também poderia ser "Até quando" - Gabriel, o pensador

 São 4h30 da manhã e a maior parte da população ainda dorme quando Nelson Silvério dos Santos, 48 anos e 4 filhos pra criar fecha o pequeno portão de seu barraco. Ele confere se o cadeado está bem trancado. Não que muitos bens possam ser roubados. Lá dentro ficaram uma geladeira que tem 12 anos de idade, uma TV com o seletor quebrado, um sofá com molas à mostra e uma mesa na cozinha. Seu Nelson é pedreiro. Levará pelo menos duas horas e meia para chegar à obra onde trabalha, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. A favela onde ele mora traz, no nome, um resumo do que será seu dia. Um resumo do que tem sido a sua vida. Vila Paciência.
Até chegar a estação do metrô são 40 minutos de caminhada. Ele não pode pegar um ônibus. “Ou é a passagem ou é o café”, conforma-se. A estação está lotada. e, quando as portas da composição se abrem, Seu Nelson fica só olhando. Já foi empurrado, caiu nos trilhos, ficou com medo de morrer. Desistiu de disputar seu lugar no trem. Desistiu também de disputar outros lugares. Está conformado. Ele segue a viagem, pendurado onde dá. Está acostumado a viver assim. Equilibrando-se. Pendurado.

O metrô está tão lotado que é impossível fazer uma boa foto. Depois, percebo que a única que consegui ficou assim, meio borrada. O que ela mostra, porém, é muito nítido. Pergunto se Seu Nelson sabe sobre o escândalo dos jatinhos de Brasília. Ele não consegue entender. “Mas eles são amigos, né? Ou deve favor ao outro?”. Respondo que eles dizem que não. “Mas como é que emprestam avião assim, do nada?”. Ele não entende.Ninguém nunca emprestou um jatinho a Seu Nelson.

Créditos da imagem: Madrugada na periferia
Óleo sobre tela, 50×70 cm
Carlos Cabanita, 1996

domingo, 24 de julho de 2011

Ternura

"No som qualquer coisa que acalma
e um incenso de Flores do Campo (para enfeitar)
"

Ela dançava como quem escutava suas vozes interiores. Parecia não ter medo do mundo nem da maldade. Ela simplesmente dançava, como quem entende o coração pulsante daquele instante mágico. Ela tinha verdade nos olhos e sua pele suava todo o sentimento que não cabia do lado de dentro. Estava enfestada de anjos, ria dos demônios do seu espírito, porque alí, estava em estado de pura graça.
Conhecia sua fome, tinha sede de pequenos delitos. Seus delírios misturavam ao balanço suave dos seus longos cabelos pretos. Amava com o amor puro. Desejava com ofuscantes raios vermelhos nos olhos. Nas mãos tinha a coragem de guiar e nos pés a febre mais que humana de caminhar. De sempre ir seguindo.
Ela dançava a felicidade. Exaltava com o coração puro as belezas do mundo. Chorava por vezes de certa alegria mansa. Ria de si. Embrulhava os outros como presentes. Carrevaga-os consigo como patuás de sorte. Vivia intensamente o momento, para que de saudade morresse depois.
Ela tinha nos olhos qualquer brilho de menina, sendo uma mulher inteira. Feita a mão. Em todas as curvas.
Pedia em versos mudos que apenas não a julgassem, porque ela apenas vivia. E não existe critério para julgar a vida. Ela fazia desenhos no ar, qualquer pedido como a propagação da paz e do amor. Exaltava a lua e se sentia filha da mãe natureza, que a concebia todos os dias.
Ela tinha todas as cores. Vestia-se de ideais e não se intimidava em travar todas as lutas por eles. Era firme e mesmo assim parecia, assim de longe, uma flor da manhã, desabrochando enfeitada com orvalho da madrugada. Conhecia o mistério que rondava todos os corações. Floreava histórias que lhe pareciam tristes, para dar certa leveza ao mundo.
Ela dançava com o mundo, ao som de um coração cheio de esperança. E eterna ternura.

Menina

Era a terceira vez que ela tentava sem sucesso tirar a tão sonhada carteira de habilitação. Já havia até visto alguns planos para financiar um 1.0 Flex, 0 Km... carro da moda, mas o nervosismo na hora do exame final acabava por dar em "merda" como ela mesmo dizia.
Não se abalava. Contava a quem puxasse assunto que "ficava nervosa e ria descontroladamente" quando sentava frente ao volante. Dizia isso tudo rindo graciosamente. Tinha calma ao relatar essa sua batalha. E eu via claramente serenidade em seus traços; talvez ela soubesse - ainda que no inconsciente - que a vida estava só brincando como uma criança traquina com a pobre menina. Era uma menina ainda, 20 e poucos anos. Mas se fazia passar por mulher, afinal ás vezes se faz necessário. Ia trabalhar de tênis, não gostava de salto alto e adorava dormir até tarde. Tinha sonhos! Queria se formar em Farmácia, mas não sabia ainda o porquê.
Numa sexta feira o namorado ligou e disse pra marcarem de sair naquela noite e de súbito ela inventou um trabalho da facul; queria ficar em casa. Queria colocar as músicas mais porra-loucas do Cazuza e deixar rolar... Ligar pras amigas e fazer brigadeiro de panela. Pintar o cabelo de rosa e as unhas de amarelo. Fofocar bastante pra depois colocar seu pijama rosa e ir deitar satisfeita de si.
Ela acordava sorrindo, como só quem abraça a vida sente e vivia feliz sem ser habilitada.

Punk Rock Girl


Ela curtia Rolling Stones. Se vestia de jeans rasgado no joelho e jaqueta de couro surrada. Maquiagem, unhas sem esmalte etc e tal. Punk Rock Girl. Tinha sonhos de viver de música. Tocava guitarra. Tinha uma banda só de mulheres. Tocava Ramones e ouvia muito L7.
Desfilava seu all-star vermelho pelos bares undergrounds da vida; mais precisamente pelas ruas sujas do centro velho de São Paulo. Jogando sinuca, bebendo cerveja, falando alto. Chamava atenção seus olhos verdes, seus cabelos loiros e sua voz um tanto quanto rouca. Havia algo de insano naqueles olhos... Mais uma das minhas paixões platônicas. Eu já disse que adoro um amor inventado.


Eu saí da cidade por alguns 2 anos. E retornei de férias. Quando eu tentava me reconciliar com o mar, eu a encontrei. Na verdade, eu não a reconheci. Ela estava sentada olhando as pedras e o pôr-do-sol. Não era mais aquela Punk Rock Girl. Deduzi que agora ela ouvia John Mayer e tocava violão em rodinhas de churrasco. Gritou meu nome e perguntou como eu estava. Tinha aberto um barzinho, me convidou pra ir lá, comer uma pizza. Até hoje não sei o nome dela. Só sei que sempre será minha Punk Rock Girl. Que agora ouve Jack Johnson e anda de carro importado. Esmalte rosa e salto alto.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Tempo perdido

"Veja o sol dessa manhã tão cinza, a tempestade que chega é da cor dos seus olhos castanhos!" - Tempo Perdido, Legião Urbana

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Atritos

Ela chorava como se fosse como uma criança...

- Porquê chora mew?
- Eu vi ele dando em cima de você!
- Ele não fez nada além de me pagar uma dose de tequila.
- Tequila?
- Sim, mas o mané não pediu sal nem limão...
- Ainda sim foi uma dose de tequila!
- Sem drama, você sabe muito bem que fomos só pra curtir nós duas.
- Só você e eu!
- Então porra, não tenho culpa se aquele cara deu em cima de mim.
- Mas você gostou!
- Não! Já te disse um milhão de vezes...
- Não acredito!
- Que merda... ainda tem aí aquela... pura?
- Usamos tudo no banheiro, esqueceu?
- ...

Olhou no fundo dos olhos dela.

- Depois de você as outras e os outros são só eles... e nada de mais!
- ( rosto molhado de lágrimas e sufocado de dúvidas )

Elas se abraçaram e selaram a noite de sábado com um beijo transcendental!

domingo, 22 de maio de 2011

Olhos de ressaca

Era sábado, bairro da Mooca, São Paulo capital, 08:30PM... ela apareceu mais linda do que de costume:

- Você tem olhos de ressaca, assim como a Capitú na história de Dom Casmurro!
- Olhos de cigana oblíqua e dissimulada? Haha... Nunca entendi o que o Machado de Assis quis dizer com "olhos de ressaca".
- Olhe no espelho e você entenderá.
- Não vejo nada, só meus olhos azuis...
- Azul da cor do mar, que quando está de ressaca leva tudo e todos.
- (Risos) Você é louco!
- Fiz um blues pra você...
- Sério? Toca aí, quero ouvir!
- Quero tocar olhando pro mar.
- Aí não rola pô, estamos há quilômetros da praia.

Ele afastou o cabelo dela suavemente, tirando-o da frente dos olhos, como se cometesse um delito... olhou no fundo do mar. Se perdeu. E tocou.

Aparências 2

Quando Dona Helena empurrou com o pé a última caixa da mudança pra fora do seu apartamento, a Jéssica do 507 saía com a última caixa da mudança do apartamento dela nos braços.
- Não tá pesada não?
- Um pouco, mas é a última, dá pra carregar.
- O Seu Jonas tá te ajudando também? Vi umas caixas lá embaixo.
- Tá sim, ele tá colocando no caminhãozinho da mudança pra mim.
- Hum…
- Tá indo pra onde?
- Pro térreo.
- Não, pra qual cidade?
- Aqui mesmo, só estou mudando de bairro. E você?
- São Paulo.
- Segura a porta do elevador pra mim?
- Claro.
Eu não sei o motivo, mas Dona Helena sempre achou que a Jéssica fosse garota de programa. Ela era jovem, loira, tinha um sorriso bonito, olhos claros, magra e com seios fartos. Nunca viu ela com um namorado fixo, sempre com uns caras diferentes a cada final de semana. Essa mudança para São Paulo só poderia ser uma coisa: emprego na Rua Augusta.
- Tá indo a trabalho?
- É, o dinheiro está em São Paulo, né Dona Helena.
- É… o dinheiro…
- E porque a senhora está se mudando?
- Vou morar mais perto da igreja, o Alfredo encontrou uma casinha boa.
- Que bom.
- Sim, vou poder ir mais às missas.
- A senhora é bem religiosa, né?
- Sigo os conselhos do Pai.
- Do pai de quem?
- Do Pai, Deus.
- Ah, sim, Deus. Claro! Chegamos.
- Bem, foi um prazer encontrá-la, sucesso em São Paulo!
- Obrigada. Boa… missa pra senhora.
- Obrigada.
E cada uma tomou o seu rumo. Assim que os moços da transportadora descarregaram tudo, Dona Helena começou a abrir as caixas. Sua surpresa foi grande ao descobrir uma caixa trocada. Nela haviam livros de direito penal, leis, fotocópias, cadernos e um quadro com um diploma de advogada.
Já em São Paulo Jéssica ria muito com as amigas após abrir uma caixa que veio trocada. Nela haviam uns copos embrulhados em jornais, talheres, jarras, potes de plástico e um pênis de borracha com um terço enrolado na base embrulhados em vários panos de prato.
O fato é que as duas ficaram muito surpresas com as vizinhas que tinham...

*Retirado do JB

domingo, 3 de abril de 2011

Show Ozzy Osbourne - São Paulo 2011

São Paulo, 02/04/2011 - 21:30

Essa noite ficará marcada na vida de muitos amantes do bom e velho rock n' roll como "ritualística-espiritual".
Nem mais nem menos que Ozzy Osbourne, ou só Ozzy mesmo para quem curte, faz um show de arrancar lágrimas e arrepiar.
Tudo começou com uma grata surpresa com a banda de abertura: Sepultura; embora não mais com a pegada das antigas fez jus ao título de maior banda de metal brasileira tocando clássicos como "Territory", "Inner Self" entre outras pedradas. Uma bandeira estrategicamete colocada ao fundo do palco com o logo da banda e abaixo o ano de 1984 remetiam ao ínicio lá na década de 80, mas da formação clássica só restaram Andreas Kisser com sua guitarra esmagadora e Paulo Jr. no baixo. Derick no vocal e Jean Dolabella na bateria mandaram bem.
Lata de Heineken a R$6,00 e lanches a R$8,00 escancaravam a realidade dos produtores brasileiros: aproveitadores e sacanas; isso a parte não rolou treta nem problemas na fila bem como na entrada e saída.

O Espetáculo
Exatamente às 21:30 eis que surge do palco escuro o príncipe das trevas dando início a um show transcendental. A primeira foi "Bark at the Moon", do disco de mesmo nome de 1983 e logo na sequência "Let me Hear Your Scream" do último cd de 2010.
Com "Mr. Crowley" o sambódromo virou um mar de gente pulando, a galera que ali estava curtia cada segundo, vibrava e respondia às intimadas que Ozzy dava  em inglês; o pessoal da VIP ainda pode se esbaldar com espumas atiradas de uma mangueira no palco que vez ou outra Ozzy pegava e mandava e ainda balde cheios de água.
A nova formação veio com Gus G na guitarra, Rob “Blasko” Nicholson (baixo), Tommy Clufetos (bateria) e Adam Wakeman no teclado; como sempre, virtuosos músicos acompanhando o mestre.

Ainda rolou clássicos como "Fairies Wear Boots" e "Suicide Solution".
Quando chegou a hora da "Road to Nowhere" caia uma chuva providencial, que Ozzy mandou "se foder" pra lavar a alma! Ouvi-a se o coro em uníssono de 30 mil vozes cantando a letra e a água caia no rosto como que se fosse um presente dos céus enviado à Terra. Foi lindo!
Emocionante ver aquilo, presenciar aquela energia que era passada de um para outro como que por "Ozzmosis". Via-se lágrimas correndo nos rostos já molhados por aquela chuva abençoada - inclusive nos rosto deste que vos escreve - e um sorriso sincero e ímpar pra cada lado que se olhava.
Ritualístico, espiritual, xamânico, visceral... difícil encontrar adjetivos para o que aconteceu naquele momento,
foi mágico e ainda mais que se possa escrever e imaginar!

No meio da "Iron Man", alguém jogou um morcego no palco e o Madman nem pensou e o abocanhou como na cena clássica nos anos 80 em que mordeu um de verdade, mas esse era de mentira.
A sensação de felicidade era visível quando se via adolescentes de 12, 13 anos com faixas na cabeça e  acompanhados pelos pais, gritando e pulando como se estivessem dizendo: "Calma, uma nova geração do rock está crescendo, essas merdas de hoje em dia estão no fim!"
O set oficial fecharia com a gargalhada sarcástica de "Crazy Train" e com tudo isso eu já me contentaria e voltaria para casa imensamente realizado e orgulhoso por ter visto aquele show, mas no bis teve mais: Veio "Mama, I'm Coming Home" que assim como na "Road to Nowhere" chovia muito e todos vibraram; pra mim teve um significado espiritual muito grande, e novamente voltei a me emocionar!
Em alguns cantos estavámos de mãos dadas como que orando ou agradecendo por aquele momento. Não se pode dizer que foi algo normal, havia ali uma energia cósmica e diria até astral que entorpeceu a todos e nos abraçou.
Pra fechar, após pedidos incessantes Ozzy mandou "Paranoid", aí a o bicho pegou! A animação mesmo após uma hora e meia parecia não ter fim; a melodia instigante pedia pulos e empurra-empurra... um digno show de rock n' roll.

Na saída, na anevida Olavo Fontoura, uma mar de fãs espalhados comentando sobre o que havia acontecido ali. Uns ainda bebiam, outros cantavam as músicas do show. A opinião de que faltou "No More Tears" foi bastante ouvida, mas o que foi unânime foi a certeza de que valeu a pena e que modinhas de filhosdaputa
passam, mas o verdadeiro rock n' roll nunca morrerá. Vida longa aos que lá estiveram e fizeram daquela noite inesquecível. Mestre Ozzy: obrigado!

Set list
Bark at the Moon
Let Me Hear You Scream
Mr. Crowley
I Don't Know
Fairies Wear Boots
Suicide Solution
Road to Nowhere
War Pigs
Shot in the Dark
Rat Salad
Iron Man
Killer of Giants
I Don't Want to Change the World
Crazy Train

Bônus:
Mama, I'm Coming Home
Paranoid

sexta-feira, 1 de abril de 2011

9701-gaúcha

- Alô!
- Boa noite, com que eu falo?
- Quer falar com quem?
- Desculpe senhor, meu nome é L. e falo da central de atendimento Banco do Brasil, qual seu nome?

Após um início ríspido, ele se deu conta daquele sotaque. Sim, ela era gaúcha!

- Ah, claro... meu nome é R.
- Bom, o motivo do meu contato senhor R. é que há uma liberação de cartão de crédito para sua conta em nosso sistema, haveria o interesse de sua parte em adquirir um cartão para uso?

Enquanto ela falava, ele simplemente se dedicou a imaginar como seria a "guria" que estava do outro lado da linha oferecendo um produto qualquer, que nem se atentou para o que era, visto que ficou embriagado de prazer com o som e a entonação melodiosa daquela voz feminia.

- Err.. me desculpe, mas não desejo comprar nada no momento.
- Creio que o senhor não compreendeu, mas não se trata de uma venda mas sim de uma liberação de cartão de crédito para o titular da conta, haveria o interesse senhor?

Imaginou se quando morresse a voz da Morte seria como aquela só pra compensar!

- Você fala de onde?
- Central de atendimento Banco do Brasil senhor!
- Sim, mas de que estado? Você é gaúcha não é?
- Sim, estou em Porto Alegre.
- Eu logo percebi pelo seu sotaque, sabia que eu sou fascinado por gaúchas?
- (Risos) Me desculpe senhor, mas não posso entrar em tais assuntos, mas muito obrigada pela elogio!

Com aquele sotaque ele compraria até areia no deserto! Fantasiou mil e uma noites de sexo com L., a gaúcha; ouvindo aquela voz gemer em sua alcova... Tudo bem que não era uma cama nova, mas não faria feio.

- OK. Não quero te complicar, mas não me interesso na sua proposta de cartão. Quer anotar meu telefone? Quando vier aqui pra São Paulo já tem um lugar pra ficar! (risos)
- (Risos) Tenho namorado e acho que ele não iria gostar disso, mas se um dia eu for pra São Paulo talvez eu te ligue, esqueceu que tenho seu telefone? Fui eu quem te ligou...
- Verdade! Vou esperar, quem sabe um dia você me propõe uma cerveja ao invés de um cartão de crédito!
- Quem sabe um dia...

(Riram juntos, e há quem diga que houve ali uma cumplicidade amante)

- Eu sempre detestei ligações de telemarketing, mas gostei de você; e essa tua voz...
- (Risos) Devo desligar, ainda tenho muitos clientes para ligar. Obrigada pela atenção e tenha um boa noite.
- Tenha uma ótima noite L., beijos..
- Beijos... (Risos)

Desligou, recostou a cabeça no sofá e ficou imaginado como seria L. : magrinha, seios fartos, saberia beber tequila e cerveja? Nunca Soube.
Passou a mão no jornal do domingo anterior, foi até os anúncios de acompanhantes onde achou "Bia Gaúcha - branquinha, olhos claros, loira estilo italianinha sem frescura, venha conferir!"
No mesmo instante solene ligou. Atendeu uma voz feminina muito bonita, mas não tinha o sotaque que procurava embora jurasse que fosse daquelas bandas ou pampas do sul do país.
Não se abateu, marcou a hora e o local e até levou uma garrafa de José Cuervo. Fez de conta que Bia era L. Não era, mas valeu a pena...

quinta-feira, 24 de março de 2011

BLUES

"Everyday I Have The Blues"
Memphis Slim no piano, Willie Dixon, T-Bone Walker e Caldonia no vocal.

Pra refletir

"Não se revoltarão enquanto não se tornarem conscientes, e não se tornarão conscientes enquanto não se rebelarem."  - George Orwell

segunda-feira, 21 de março de 2011

Segunda-Feira


Tonight - Ozzy Osbourne

Now I'm back out on the streets again
It never rains unless it pours
Try to get back on my feet again
I hear the raging thunder as it roars
Tonight, tonight is it just a rhapsody
Or am I right
Tonight, tonight is it all a mystery
I just can't fight no more
I hear the questions surface my mind
Of the mistakes that I have made.
Times and places have left behind
And am I ever gonna make the grade
Tonight, tonight is it just a rhapsody
Or am I right
Tonight, tonight is it all a mystery
I just can't fight no more
As I beat my head against the wall
Running around in circles in vain
I'm feeling three foot tall
You don't understand I'm fading away
Don't want your pity or your sympathy
It isn't gonna prove a thing to me
Good intentions pave the way to hell
Don't worry when you hear me sing
Tonight, tonight is it just a rhapsody
Or am I right
Tonight, tonight is it all a mystery
I just can't fight no more

sexta-feira, 18 de março de 2011

Dois lados de uma paixão chamada futebol

O termômetro marcava 38° e a moleza no corpo não deixava dúvida: Febre! E em plena segunda-feira.
Não achou ruim, afinal de contas no dia anterior seu time de coração havia perdido uma dura batalha; 3x2 fora o placar final.-"Injusto" foi a palavra que mais repetiu desde o apito do árbitro.
Tinha ido assitir ao jogo na arquibancada, pois um duelo daqueles merecia. Foi uma tarde de domingo linda na cidade de São Paulo, o ingresso estava em mãos há pelo menos 15 dias de antecedência e a surrada camisa de glórias passadas saia enfim do fundo da gaveta. Estádio lotado, a coisa mais linda do mundo era ver aquilo; 70 mil vozes entoando coros de adoração e disputando cada centímetro do palco. Na hora do hino nacional via-se brio e garra na face de cada um dos 22 eleitos como titulares para aquela peleja; viu também o roupeiro de seu time acendendo uma vela para Nossa Senhora Aparecida junto ao banco de reservas - sim, nessas horas vale tudo!
O jogo, ou melhor, o espetáculo foi disputadíssimo: 2x2 até os 46 do segundo tempo, quando após uma bola lançada no meio da área, a bandeirinha - uma morena com lindas pernas - não viu um impedimento claro e se omitiu; o juizão validou o gol adversário: 3x2 a sentença.
Talvez fora as emoções do jogo que o tenham deixado de cama naquela segundona, mas se tivesse ido trabalhar seria alvo de gozação o dia todo pelos camaradas do escritório. Poderia argumentar que havia sido um jogo bom para os dois lados, que houve um erro crucial que decidiu a partida... bobagem! Todos sabem que após a guerra, não se premia os combatentes e sim e somente os vitoriosos.
Sabia de uns remédios caseiros "receitados" pela sua avó, mas não fazia cultivo de tais plantas milagrosas a que se fazia necessário. Resolveu tomar um Dipirona, simples e prático. Pensou em ir até o consultório médico pegar um atestado, mas não queria justificar sua ausência; há tempos não matava um dia. O amargor do remédio foi doce como mel em comparação a amargura do dia passado.
Ligou a TV e se ajeitou no velho sofá para ver os comentários pós "Hiroshima" quando se deparou com uma cena emblemática: uma apresentadora muito gostosa "comentando" sobre o duelo. Aquilo foi sarcasmo demais para o pobre e combalido torcedor, mudou de canal. Outra gostosa com um lindo decote discorrendo sobre o assunto. Riu e começou a refletir sobre o que havia se tornado os programas esportivos da TV brasileira; aquilo era sim um colírio para qualquer macho que se preze, inclusive até já havia procurado fotos de ambas nuas; em vão."-Ah se eu fosse diretor de TV", brincou.
Tinha certeza que para estar ali, estavam sim sendo comidas por alguém do alto escalão da respectiva emissora, não achava concebível qualquer outra possibilidade.
Lembrou com nostalgia da época em que com seu time na segunda divisão, ouvia Fiori Giglioti "Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo", Zé Silvério "Agora eu vou soltar a minha voz..." e tantos outros.
Não poderia esquecer de Armando Nogueira e Nelson rodrigues, com quem havia aprendido a amar o futebol romântico após ler "A Pátria em Chuteiras", mas eram outros tempos. Sabia muito bem que essa modernização das transmissões e colocação de delícias para apresentar programas esportivos era uma tendência que veio pra ficar; imaginou se daqui a 30, 40, 50 anos veria algum livro publicado por alguma dessas beldades do jornalismo do esporte bretão, aí então soltou uma gargalhada. Aquele momento o termômetro marcava 37°; a febre havia baixado, e já estava melhor disposto. Continuou a assistir a papagaiada, como classificou os comentários femininos e simplesmente deixou rolar, ao término do noticiário
ainda recebeu um beijo virtual de uma das apresentadoras e pensou ter sido crítico demais às gurias, era só mais uma cria do sistema, all right man!
Ironias a parte, levantou-se e foi até o quarto onde havia deixado jogada a farda do dia anterior ainda suja de suor e lágrimas. Colocou-a no cesto de roupas de lavar, amanhã seria outro dia. Sempre é. Vida que segue...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Mundo Careta S/A

Estive pensando como esse mundo anda careta. Já não se transgride nenhuma regra, já não há mais revoluções nem revoltas, contestações ao que aí está então nem se fala. Tudo muito mais ou menos, atitudes que não provocam ódio nem paixão, tudo muito sério; como disse o poeta: "Viver tem que ser pertubador". Acho que a população mundial deve ter se tornado racional demais e quando digo isso me refiro a agir somente pela razão. Talvez tenhamos nos esquecido de ouvir o coração. O que mais se vê hoje em dia nos quatro cantos são pessoas de espírito morno, que para se manter em um emprego, relação amorosa ou qualquer coisa que lhe exija um mínimo de reação radical, simplesmente veem o que é melhor financeiramente ou mais confortável e se acomodam. Talvez nos falte um verão do amor, como aquele de 68.
Porra, cadê aquela energia pertubadora peculiar aos jovens?A vontade de mudar, a força reacionária, a rebeldia... Hoje temos uma geração que nasceu da década de 90 pra cá perdida no que se diz respeito a atitudes anárquicas. Eu aqui no meu mundinho utópico tenho a plena certeza de que isso foi arquitetado e é interessante para quem está no poder, e sem contar com esse bando de retardados mentais que se vestem de colorido e ouvem esse tal de happy rock; ah que saudades da revolta, protesto e dedo na ferida do rap nacional até meados da década de 90, da efervescência do rock nacional e do movimento punk dos anos 80! Dias atrás vi pichado num muro: "Antigamente era sexo, drogas e rock n' roll... hoje em dia é punheta, ice e restart" Gênio!
E as nossas leis? Daqui uns dias teremos de pedir permissão até pra respirar! A lei anti-fumo que foi implantada aqui em São Paulo embora benéfica para os não fumantes é uma baita censura aos fumantes, penso que ninguém é obrigado a fumar por tabela, mas também sou contra a esse tratamento de leprosos na época de Cristo que é dado aos fumantes.
Uma amiga minha acredita que essa juventude 110 volts dos tempos atuais se deve ao fato de não terem motivo para protestar; ponto de vista ao qual eu discordo plenamente, basta olhar pro lado e ter senso crítico. Se bem que senso crítico pra essa geração deve ser decidir entre Justin Bieber e essa merda de sertanejo que tomou conta do país. Prefiro um mundo ligado no 220, exagerado como a vida deve ser! Vai fumar um baseadinho? - "Maconheiro, drogado.. cadeira elétrica nele!"
Onde estão as greves nas portas de fábrica, as passeatas, os movimentos estudantis tal qual na época da ditadura? Pode-se até dizer: "São outros tempos" -História pra boi dormir! Tudo amornou, exatamente como quem esta lá em cima quer. Conseguiram bitolar uma geração.
E o sexo? Acho que a única coisa que não encaretou foi o sexo, hoje a liberdade sexual é propagada aos montes. Ufa, ainda bem!
Guardada as devidas proporções, seria essa geração pós anos 80 uma espécie de geração yuppie brasileira, e os hippies, os militantes da contracultura seriam seus pais ou a geração nascida até a década de 80? Talvez, só sei que daqui do meu caleidoscópio sem lógica vejo um mundo careta pra cacete ao qual me leva a um tédio sem igual.
Termino com Jack Kerouac, um dos maiores poetas da geração beat que certa vez escreveu:

"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los,discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam." - Jack Kerouac

terça-feira, 15 de março de 2011

Sobre nomes e suas aparências

- Nunca vim nesse bar e peguei uma cerveja quente...
- É... aqui sempre tá no ponto!
- Tava pensando, você não acha que "Programa do Gugu" é um nome extremamente gay pra um programa de TV?
- Hahahahahaha... Claro que é meu!Bicha demais!E o interessante é que ninguém para pra pensar nisso.
- Imagina "Programa do Gugu"... e lembra uma época em que ele ficava cantando aquela música do pintinho amarelinho?
- Lembro, hahahaha, ficava mais gay ainda!
- Pelo menos nisso o Faustão se sobressai, o programa do cara é "Programa do Faustão, é mais macho..rs.
- Que observação hein cara, falta do que fazer leva a isso!
- Hahahaha, verdade... o ócio destrói a mente!
- ...
Pediram mais uma cerveja e uma dose de Velho Barreiro com limão e brindaram "à muitas mulheres para aquele início de ano"!

domingo, 13 de março de 2011

Aqueles olhos...

"Working from seven to eleven every night
It really makes life a drag, I don't think that's right"

Era a terceira vez que tocava a mesma música. Ele havia acordado com uma supra vontade de ouvir um Led aquele dia quantas vezes fosse possível, e aquela melodia de "blues pra fazer amor" mais a letra irremediavelmente nostálgica, lhe fizeram apertar o repeat e deixar rolar enquanto fervia a água pra passar o café. Foi até a janela. A visão naquele andar não era das melhores, mas por aquele preço não podia reclamar. O tempo ajudava. Era uma tarde de um daqueles típicos domingos de outono: pouco sol e uma brisa suave no rosto. Preocupou-se só em acender o cigarro e cerrar os olhos. Pensava na vida, que diga-se de passagem não havia sido muito grata até então; se teria se dado melhor, ou se teria sido mais fácil se fosse tão filho da puta como uns caras que conhecia e que estavam numa boa. Mas definitivamente não tinha vocação pra ser esse tipo de gente. Pensou nos pais, há tempos devia uma visita que durasse mais de uma hora; pensou nos amigos, que não eram muitos mas profundamente leais; lembrou até da filha do síndico, uma ninfeta deliciosa que há dias ele bolava um plano mirabolante pra comê-la.
-"Foda!" suspirou quase que lamentando. Eram dias ruins aqueles, ou como gostava de dizer eram dias desleais. Havia metido o pé no trampo na semana anterior, achava injusto ter que trabalhar aos fins de semana por um salário medíocre e ainda por cima ser subordinado de um playboy puxa-saco visivelmente gay. Não que tivesse algo contra os gays, até os achava engraçados com suas peculiaridades. Certa vez um deles o apresentou à uma amiga e teve uma noite inesquecível, mas fazia questão de frisar que não devia favores por tal ato.
Na mesa de centro, o jornal cravava a data do dia anterior. Pegou e foi aos classificados ver se havia algum emprego digno sem playboys-puxa-sacos-boiolas, mas antes deu uma passada nos quadrinhos.
Era fascinado pelas tirinhas de "Hagar-O Terrível". Na página anterior lia-se uma coluna social assinada por uma madame qualquer que não tinha o que fazer e falava sobre festas da high society paulistana; nunca havia lido, mas naquela falta do que fazer resolver passar os olhos. Uma inauguração de uma badalada casa noturna era a bola da vez. Entre fotos dos frequentadores, modelos contratadas e artistas do primeiro escalão.Uma em especial lhe chamou a atenção: já havia visto aqueles olhos antes!
-"Não pode ser... será?" - falou consigo mesmo.Sim, era ela!
-"Porra, será que ela voltou a modelar?" Parecia não acreditar, mas sua pupila já dilatada e o coração acelerado não permitiam tal dúvida. Aí se deu conta que aquela com quem havia trocado juras de amor, amantes daquele "beijo punk" e dividido inúmeras mesas de bar havia  reaparecido em sua vida. O fim dos dois tinha sido aqueles do tipo "a gente se vê por aí..." quando por medo ou covardia de dizer um sonoro adeus, deixa-se chegar no ocaso dos sentimentos pela dolorosa ação do tempo. Levantou meio desnorteado pela visão que tivera, aquela altura do campeonato não era um bom momento para tais lembranças afetivas; mas quem disse que tem hora pra isso acontecer? Foi até a cozinha, a água havia fervido e enquanto passava o café ficou remoendo as noites que passaram juntos, e aqueles verdes olhos... Em contraste, caia na real
e se lembrava da atual situação financeira e profissional, que não faria inveja nem a um morador de rua. Tentou matar aquela lembrança, se recordando de tantas outras garotas que haviam passado por sua vida depois dela, das viagens, das porra louquices; mas aqueles olhos verdes teimavam em vir em sua mente. De súbito, pensou em aceitar aquele trabalho com seu tio no interior. - "Seria bom pra esfriar a cabeça" pensou. Lembrou de um amigo que certa vez, bêbado, lhe disse que numa situação dessas a melhor coisa a se fazer é mudar de cidade, de bairro, de país! Mas não, isso já seria covardia. Fugir de algo, por pior que fosse nunca foi de seu feitio. Achou melhor não adoçar o café daquela vez. Pegou o fatídico jornal e amassou-o - não sem dar uma última olhada - lançou-o no lixo junto a caixa de pizza da noite passada e cascas de banana prata. Encheu a velha xícara com um café mais forte que o normal, voltou a sala e ouviu a última estrofe que dizia:
"Baby, since I've been loving you
I'm about to lose, I'm about lose to my worried mind"

Desligou. Não queria mais ouvir nada. Acendeu outro cigarro e deu um gole no café. Olhou pela janela, nada havia mudado, ainda era outono...

Deus, um de nós?

Eram cinco pessoas rindo ao mesmo tempo, o bêbado insistia “tá premiada, tá premiada!” e isso só fazia os caras rirem mais ainda. Um deles ainda chegou a dizer “Acredita nele! Olha a barba branca, é Deus te dando uma chance!” e os amigos cairam na risada. No som do buteco tocava Joan Osborne – One Of Us mas ninguém notou a ironia divina.
Os números marcados na mega-sena do cachaço eram 05 – 15 – 43 – 48 – 52 – 55 e ele jurava que tinha o bilhete premiado. Não queria muito, R$ 5,00 pra fazer caridade, mas os caras mandaram o bêbado passear. Só de sacanagem foram até uma casa lotérica e jogaram, combinaram de não usar os números do bêbado para não terem que repartir o prêmio com um cachaceiro.
Foram pra casa. Na manhã seguinte começaram a ligar um pro outro. O prêmio tinha saído, alguém estava muito rico e todos sabiam quem era. Será que o bêbado era somente um bêbado ou realmente Deus dando uma chance de mudança de vida? Eles nunca mais saberiam a resposta. Eles só sabiam do tamanho da cagada. Eu estaria chorando até agora.